sábado, 19 de janeiro de 2008

Querido Mundo - Gero Camilo


Saiba que hoje renasci de mim mesmo.
E dei de sorrir assim, de graça.
Dei de dar de ombros às tragédias que,
Antes de hoje, me tiravam o sono...
E o respeito...
E a felicidade...
E se pensarão de mim: “tolo acolhedor de paixões!”
Deixe estar...
Porque, Querido Mundo,
Abrir os olhos para ver, ao invés de enfeitar a realidade,
É uma forma poderosa de viver o inteiro.
Sinto-me inteiro,
Querido Mundo...Veja só!
Minha alma também sorri!
E não se importa mais se o que a faz feliz
É a simplicidade...A crueza de quem sou.
É que me dei conta (foi de um estalo!)
Que nem tudo que se sente...
Querido... Mundo...
Tem de ser dolorido.
Agora, com licença...
Tenho de viver.
Até mais, Querido Mundo.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

A moça metida!

A moça metida e de nariz empinado... Vive a se meter onde não lhe é de direito.
Invade tudo que é pensamento meu desavisado, tira o peso da palavra defeito.
A moça que parece se fingir de não linda, tenta inutilmente esconder o evidente.
E ao ser assaltada pela verdade ao qual recorro, sorri e disfarça habilmente.
É que ela é metida a saber disfarçar, e disfarça bem o que é notório, só não disfarça o encanto que ela inaugura em mim, fazendo do meu prazer um sentido não provisório.
A moça metida meteu-se a “reesignificar” sentidos e palavras... e Hoje vive onde já não ouso tirar, habita-me como quem é dona do lugar, finca-se como quem quer tomar impulso pra voar.
A moça metida tem um sorriso capaz de desfazer conceitos, derruba com graça o que é prévio no ser humano.
E ao fazê-lo causa-me um desengano, profano em não pensar em ser.
E se sou, não passo de um cigano, esperando a moça metida para a mão ler.
A moça metida mete medo em homem barbado, com a graça de um jeito que me faz duvidar.
Se for mesmo possível alguém se parecer, com o que sonho, idealizo, mas sem chance de materializar.
É que ela se mete, e metida uma vez, passa a fazer parte do lugar, e mesmo buscando nos confim da memória, não acho uma lembrança vaga, que denuncie que ela nunca esteve lá.

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

4 Naipes de um baralho

Vestido com roupas que não me cabem, venho aqui dizer palavras que não minhas.
E espero por na mente dos crédulos de plantão um pouco mais de incerteza.
E ao duvidar até mesmo do que eu próprio digo saberei que sou eu o absurdo traduzido em membros que não meus.
Afinal, sou eu aquele que amanhã será outro.

Obs: Série com três destextos que falam um pouquinho de 4 pessoas maravilhosas que entraram na minha vida: Paty, Lívia, Sandra e Gláucia... resta saber qual é a parte que toca cada uma.

Aquela que está

Bate com força alguém na porta das petições.
E cada pancada aflita mostra a certeza perene de que tem sim alguém lá...
Quem bate estando do lado de fora não podia estar tomado por tal certeza, mas a insistência reta de cada pancada parece evidenciar exatamente o contrário.
Minutos passam e o barulho antes estranho ao ouvido recente e desacostumado parece soar familiar, foi-se com o costume mais uma vez a raiva que devia nos invadir e fazer-se senhora de nossos atos.
Horas após o começo das infindas e descompassadas pancadas o barulho cessa, e o que devia passar desapercebido, parece mais estranho ao meu ouvido do que a série de batidas na madeira maciça.
Meu olhar “interpelador” se perdeu na reconstrução de uma moça que ali estava a bater, e nesse mergulho nas cores que ornavam minha vista ao suave som tirado de fagotes e bandolins vi o que pretendia lá.
A moça que lá está, se fez presente e real tal qual a margarina que passo no pão matinalmente.
Ela não adentrou porta nenhuma que não a da minha percepção.
Essa ela derrubou a pancada.
Invadiu e agora e está.
Aquela que está, existe com real estranheza a bater nas portas. Bate pra acordar, pedir passagem, pedir vigília.
Não bate para que se abram as portas, mas sim para que as mesmas não se fechem mais.

Aquela que veio

Ela virá
E quando chegar aqui, onde as folhas já não dançam, com seu clarim envenenado vai entoar notas musicais não só audíveis, mas também visíveis.
Ela virá.
E quando chegar, saberá exatamente o que falta e o que não.
Saberá que pra ser feliz, não bastam casas no deserto do campo, nem tão pouco livros e discos empoeirados.
Ela virá.
E ao vir, trará contigo uma infinidade de infinitos, um emaranhado de caminhos que darão a lugar nenhum.
E com seus atalhos, mostrará ao meu mundo que é meu, que não existem estradas que carreguem, nem tão tem pouco existem pernas que me levem, só há asas, e um céu congestionado e esburacado.
Ela virá.
E eu saberei quando raiar o dia, e no lugar do sol, existir apenas sua luz tácita e suficiente.
Ela virá.
Pra brindar a todos com sua generosidade desprovida de intenções.
Ela virá, e no meio de outras pessoas será a mais querida, entre as mais queridas, e fará isso sem saber ao certo como, fará isso mesmo sem ter a intenção de fazer.
Ela virá, pra ser aquela que espero, mas será aquela de quem nada espero.
Ela virá, e me pedindo um pouco de luz, evidenciara o sol que há em mim.
Ela veio.

Aquela que espera

Ela espera todos os dias diante do jardim sem flores, o botão que almeja virar rosa.
Ela espera com a vista além, e com a certeza dúbia de um sol por nascer, de que não pode haver pra sempre desertos sem flores.
Ela rega com real dedicação a terra preta e desprovida de entendimento.
E a terra recebe a água vida, sem saber que poderia ela fazer do dia da moça que espera um verdadeiro carrossel.
A moça que espera, deposita cada semente comprada na floricultura que vende filhos crescidos, com todo amor e afeto.
E as sementes não vingam, nem tão pouco fazem menção de vida.
Seguem reclusas no ventre da terra recebendo os carinhos distantes da esperança apática do por vir.
Ela planta, e não colhe, ela rega, e não vê crescer.
Ela espera, e não senta.
Nem todos os muzaks do mundo sabem o quão grande é a espera da moça que espera.
E ela espera, entre a paciência e o prazer, conhecer um mundo inteiro pela tela da TV, espera sair de casa com os pés fincados no sofá.
A Moça que espera fica ali com sua morosidade passiva e alegre proveniente dessa espera que faz com que eu me pergunte:
O que eu procuro?

Aquela que é...

É...
Nasceu para ser, e desde então cumpre com sua sina, é a vida inteira.
Desde pequena já lidava com o ser, nem precisou gastar tempo pensando no que poderia vir a ser quando crescer, pois já era.
Embora com um futuro aparentemente conhecido, a menina que é não esmorecia diante da exatidão programada de seu futuro, mesmo porque sabiamente tinha para consigo que só se é sendo, e para ser é sempre preciso ir, estar e fazer.
Foi onde quis, sem se importar com nada, apenas esteve e fez o que devia fazer, como quem aceita que abrir os olhos é a única saída para ver o sol nascer.
E assim foi.
E hoje ela ocupa um lugar de destaque.
Hoje ela é.
E não a ser que ouse contestar tal mérito por ela alcançado.
Ela é onde quer que vá, e vai continuar sendo, e não há quem ao olhar pra ela, deixe passar desapercebido.
Aquela que é, acorda o meu dia, com minha ânsia de dedos e letras.
Ela adoça meu café, põe poesia no meu instante de riso só de ser o que é.
E eu, que pouco sei sobre o que sou, me sinto feliz por ao menos saber o que sou ao lado da menina que é.
Sou feliz!